quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Formação dos pastores protestantes no Brasil

Por parte das dificuldades dos cristãos protestantes em compreender e auxiliar o processo de amadurecimento da democracia e dos direitos humanos e o papel nem sempre construtivo destes, principalmente de suas lideranças, cabe refletir a formação que os pastores recebem nas congregações locais, nos seminários teológicos e institutos bíblicos responsáveis pelo preparo intelectual dos líderes. Dispensaremos comentários a respeito das denominações que desprezam o bom preparo. O mal que elas causam são inúmeros e crescentes. Sua solução repousa no empenho das autoridades seculares em oportunizar acesso a cultura letrada em todos os níveis aos seus cidadãos. Nestas linhas os discípulos-escravos das grandes lideranças religiosas repetem os ensinos nem sempre correspondentes à correta interpretação da Bíblia, encaixando-os pelo senso comum e pelo emocionalismo em versículos fora de contexto.

Algumas denominações cristãs fundaram seminários teológicos, o que não se pode, nem deve, confundir com Faculdades de Teologia. Nos últimos anos os cursos à distância no campo teológico aumentaram e o seu fracasso já pode ser sentido em conversas com os alunos. As pessoas que ingressam, em geral, são adultos que frustrados por não terem cursado uma faculdade normal, julgam que por pertencerem a uma congregação protestante, teologia seja-lhes um assunto acessível. Mais tarde perceberão que se trata de confusão, pois as migalhas que lhes são oferecidas nos púlpitos, em nada correspondem ao estudo sistemático, disciplinador, que exige reflexão, questionamento, busca incessante pelo conhecimento, leitura, compra de livros, dedicação, tempo e método científico. Desistem. Preferem as sopinhas e águas com açúcar ministradas nas falidas escolas dominicais, sabatinas ou pregações domingueiras. Isto posto, porque na maioria das denominações protestantes a Bíblia ocupa apenas o lugar de mágica e superstição. É um livro esotérico ou um amuleto. Permanece fechada fechada, sem leitura nos armários, salas, para iludir as visitas de que nestas casas se tem o costume de ler ou serve para ser conduzida feito desodorante da casa ao culto no templo. Os cursos à distância são meras apostilas cujos questionários são respondidos mecanicamente pelos estudantes. O nível do curso é, tipicamente, de ensino fundamental. Mesmo sendo de tanta mediocridade, os desistentes são inúmeros.

Os seminários e institutos bíblicos nascem com problemas e limites. Eles não ensinam teologia, ensinam denominacionalismo. Uma escola de coloração presbiteriana não discutirá o pensamento batista a respeito da organização eclesiástica, vice-versa. Uma instituição de marcas protestante-fundamentalista operacionará em relação ao catolicismo romano como inimigo a ser vencido e não em perspectiva histórica. Os seminários tem as disciplinas adequadas aos interesses denominacionais, por isso, limitados em conhecimento. Transmite-se a infrutífera tese de que para ser um excelente pastor ou ministro basta a decoreba de centenas de versículos das Escrituras, aqueles que correspondem ao senso comum do meio denominacional. Por isso, a dificuldade de que os membros destas igrejas possam compreender sua própria fé à luz dos tempos, alguns caindo no rídiculo de aplicar passagens bíblicas de contextos milenares antes de Cristo aos nossos dias, como demonstração da vontade divina.

Por isso, os cristãos protestantes continuam lidando mal com a história da moral, os costumes culturais, preconceitos de gênero, classe, relações de trabalho, questão de autoridades constituídas, ideologias e comportamento sexual. A Bíblia que deveria ser um instrumento poderoso na unificação da raça humana, na disseminação do amor e da compreensão dos povos, servem ainda, graças aos púlpitos para a propagação da discórdia, da ignorância e da mentalidade fechada e retrógrada. O único resultado benéfico disto, fica para a conta dos pastores acomodados e autoritários. Eles recebem polpudos salários, com série de direitos garantidos, enquanto subjulgam suas congregações e ministram-lhes falatório vão, sem menor responsabilidade intelectual e de desenvolvimento de seus membrados.

Os seminários possuem um quadro de matérias pobre. Em alguns casos são pastores com mera formação pastoral que as ministram. Por exemplo, História Eclesiástica exige do mestre uma formação sólida em cursos de graduação de História, tal como a atividade de aconselhamento dos pastores requer conhecimento teórico e prático com psicólogos e psiquiátras, devida graduados e reconhecidos pelas autoridades. As igrejas evangélicas brasileiras vivem seu período de obscurantismo. A alienação e a indiferença para o estudo sério e aprofundado dos textos bíblicos marca a maioria dos congregados. Enquanto isso reinam absolutos os novos papas do protestantismo nacional, Edir Macedo, Valdemiro Santiago, David Miranda e Scilas Malafaia, ou pequenos ditadores em congregações isoladas.