terça-feira, 20 de março de 2012

Fundamentalismo protestante e Universalismo alexandrino: Russell Norman Champlin

A crítica de Jerry Leonard (Batista Regular) ao pensamento de Russell Norman Champlin
Caros pesquisadores: Coloco aqui a sua disposição um artigo publicado logo que saiu a primeira edição do NT Interpretado. Jerry Leonard era professor de grego no Seminário Batista do Cariri, pertencente às Igrejas Batistas Regulares do Brasil, e se trata de uma análise acadêmica. Muitas das objeções do Jerry Leonard são a força das posições filosóficas do Dr. Champlin e de muitos de nós. Também as reservas e o grande temor do erudito grego, são razões especificamente de vinculação e proteção do fundamentalismo brasileiro, especialmente de sua vertente pré-tribulacionista e calvinista. Em se tratando de um texto respeitoso com a figura e o porte do Dr. Champlin, disponibilizo aqui. Infelizmente não tenho a data da publicação, cautela que na época não tive em relação a metodologia científica e a referenciação. Acir da Cruz Camargo

Ponto de Vista Teológico

Obra monumental de 4.342 páginas, letras miúdas, seis volumes bem encadernados, “Versículo por Versículo” é a verdadeira atenuação desta obra exaustiva e enfadonha que trata de quase todas as palavras do Novo Testamento. Características valorosas inclui copiosa matéria introdutória: o texto grego completo e citações sem conta de mestres de todas as épocas e confissões. Contudo, a posição teológica do autor serve de impecilho insuperável para qualquer recomendação da obra, a não ser com sérias reservas. Nas mãos de leigos e obreiros não alertados há de ser muito perigosa. Champlin cita favoravelmente velhos modernistas, como E. Stanley Jones, e outros recentes como Paul Tillich. Suas crenças modernistas incluem: A rejeição do inferno literal e eterno: “Não honramos a Deus por fazer dEle o grande Destruidor de todos os séculos que queima pessoas como se fossem leitões assados, em uma imensa fornalha...” (Vol. 5, p. 230). Restauração além-túmulo: a. Do crente caído: “Essa restauração poderá ter lugar enquanto ele ainda vive na carne, ou, talvez, no além-túmulo, em alguma dimensão do mundo espiritual...” (Vol. 5, p. 105). b. Dos incrédulos: “No que concerne aos perdisos, antecipamos que haverá uma “restauração” em contraste com a redenção dos eleitos... Cristo será tudo para eles (os perdidos restaurados), a motivação, a alegria, e o propósito de sua existência.” (Vol. 5, p. 97). c. Dos anjos caídos: “Pressumimos que os anjos caídos poderão ser restaurados...” (Vol. 5, p. 97).
Erros na Bíblia: “...Aqui, como em muitos lugares, vemos os evangelhos diferindo entre si quanto a minúcias; e às vezes até se contradizem...” (Vol. 1, p. 714). Jesus errou: “Não é de modo algum impossível que Jesus, tal como a igreja primitiva após ele, tenha pensado em sua “vinda gloriosa” para estabelecer o reino” dentro em breve”...Nisso, naturalmente, ele foi desapontado, tal como foram seus discípulos.” (Vol. 1, p. 733). Rejeita a ressureição material: “Esse corpo ressurecto não será atômico ou material em qualquer sentido.” (Vol. 5, p. 205). Experiência humana como base de doutrina: “A experiência humana prova a realidade tanto da queda como da apostasia, de crentes antes genuínos.” (Vol. 5, p. 328). Champlin também abraça crenças místicas bem diferentes: A possibilidade de reencarnação: “Podemos imaginar como os perdidos poderiam ser envolvidos em muitas encarnações, como parte do seu “estado de perdição...provendo-lhes tempo para acharem a Cristo.” – Vol. 1, p. 730. A salvação além-túmulo: “Cristo desceu ao cárcere do hades a fim de pregar, as boas novas aos prisioneiros, para que sua situação fosse revertida e pudesse obter vida espiritual...não deveria ser tido como precedente? Seria estranho se alguma porção do seu ministério não tivesse resultados contínuos.” (Vol. 1, p. 211). Comunicação com os mortos: “Diversos exemplos bíblicos mostram que a comunicação com os mortos é algo que ocorre ocasionalmente.” (Vol. 1, p. 694). Espíritos soltos: “É razoável supor..que alguns demônios são espíritos humanos de baixo desenvolvimento, os quais, após a morte física, não foram para seu destino final...” (Vol. 1, p. 694) Sono da alma: “...é possível que alguns casos, após a morte física, a alma durma por um breve período, especialmente se a morte for violenta.” (Vol. 1, p. 585) O corpo como prisão da alma: “...esse alvo (a perfeição impecável) não será e nem poderá ser atingido enquanto a alma estiver cativa no corpo.” (Vol. 6, p. 257) Os teólogos da confissão calvinista não gostarão da grande ênfase de Champlin sobre o livre arbítrio do homem, nem do seu desprezo da doutrina da depravação total (Vol. 5, p. 297, 298), por exemplo). Os eruditos no grego ficarão perplexos que um comentário que salienta o texto original completo de modo geral não trata devidamente a força dos temos, dos artigos, e outros fatores sintáticos da língua grega. Nos estudos dos vocábulos Champlin faz melhor, e até faz contribuição valorosa, mas ainda é capaz de um fora como este: “Nenhuma diferença real pode ser demonstrada entre “filleo” e “agapao” no N.T., logo descobrimos que eram usados como sinônimos...” (Vol. 5, p. 168). Nas contribuições de valor estão incluídas a tradução e transsão dos cinqüenta argumentos de Walvoord a favor do arrebatamento pré-tribulacionista (Vol. 5, p. 303 ss). Os que não aceitam esta posição serão desapontados com a refutaçao fraquíssima que Champlin faz. Também tem numerosas citações e estudos de valor. Faz pena tão grande desperdício de tempo, erudição e dinheiro na publicação. Fosse uma obra ortodoxa seria grande bênção. Infelizmente trata-se antes de um grande perigo para as igrejas fundamentalistas do Brasil. Jerry Leonard, Seminário Batista do Cariri, Juazeiro do Norte – CE. Extraído de “O Batista do Cariri, p. 03 e 06

Teólogo alexandrino e filósofo brasileiro: Russell Norman Champlin

A filosofia no Brasil é pouco estudada. Um país cujos olhos sempre se voltaram a importação de teorias e conceitos, deixou de transmitir aos seus cidadãos o legado de pensadores importantes que construiram, em nossa terra, reflexão autônoma sobre os grandes problemas que afligem a sociedade mundial. Álvaro Vieira Pinto, Roland Albuquerque Corbisier, Gerd Bornheim e não menor, Russell Norman Champlin. Este último trocou o chão de sua pátria, afamada e respeitada no mundo, os Estados Unidos, pela cultura brasileira e aqui publicou seu pensamento. Não se pode falar que sua obra imensa esteja relegada. Incomoda e gera ferrenha oposição, mas a vida permite que ações negativas como esta tragam à tona a magnitude do pensamento de RUSSELL NORMAN CHAMPLIN e como isto constitui escola no círculo filosófico e religioso da América Latina. A maioria dos críticos de RUSSELL NORMAN CHAMPLIN se inscreve num círculo de pequenez intelectual, fanatismo religioso, Tribunal de Santo Oficio, militância seminarística onde pouca instrução racional se exige. Por isso, é sempre preconceituosa, inimiga dos estudos e do intelecto, pessoal e agressiva, invejosa e fechada, e nunca se concentra na análise das idéias e na profundidade da Filosofia e da Teologia. Dos criticos de RUSSELL NORMAN CHAMPLIN destacamos, Jerry Leonard, falecido missionário batista regular, e ex-diretor do Seminário Batista do Cariri, erudito e vinculado ao fundamentalismo daqueles tempos. Outro crítico, é o pastor batista convencional, Isaltino Gomes Coelho Filho, ex-diretor da Cruzada Mundial de Evangelização e da Faculdade Teológica Batista de Brasília, um intérprete amilenista das Escrituras Sagradas e não menos, do fundamentalismo religioso, parcela consentida dentro da Convenção Batista Brasileira. Na crítica de Isaltino já se percebe algum desvio do tom sério para a ingenuidade que domina maioria dos pastores, meros reprodutores do ensino teológico de nossas escolas, onde a capacidade de pensar com autonomia é vista com cautelas. O grande problema encontramos em listas de discussão da internet, patrocinadas pelo movimento fundamentalista brasileiro. Comprometidas com uma militância denominacional imensurável, com um farisaísmo danoso, confundindo Teologia com doutrinação de púlpito, advogando a preguiça acadêmica, e não necessidade de se estudar sistemática e livremente as Escrituras, colocando a pesquisa e a reflexão bíblica como pecados contra o Espírito Santo, desta forma contribuindo para o estado de ignorância em que se encontra nosso povo, nos segmentos da política, cultura, filosofia e religião, os tais tomam parcelas das afirmações e propostas de Champlin, para colocar toda sua obra num presídio religioso ou no index teologicum do protestantismo. Como lhes faltam argumentos teóricos, resta-lhes investir contra a pessoa do autor, desqualificando sua capacidade acadêmica, negando-lhe a titulação conquistada, por isso, igualando-o aos detratores, fica-lhes mais fácil afastar os estudantes de sua leitura. Na internet, a lista de discussão “Grata Nova” e o jovem pastor batista convencional, cheio de militarismo e revolucionarismo juvenil, emitem juízos de valores que premiam a ignorância e vão de encontro ao princípio do crescer em sabedoria, das Escrituras, difama, com a mais absoluta falta de provas, a pessoa do autor de “O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo”. Em face disto, da apologética caminha sem freios para a maledicência.
Russell Norman Champlin é Bacharel em Literatura Bíblica pelo Immanuel College (College em inglês significa Faculdade) da Universidade de Utah. O autor destas linhas tem acesso aos documentos orignais da titulação do Dr. Champlin em seus arquivos pessoais. Possui o Mestrado em Artes, pela mesma Universidade de Chicago (The University of Chicago) com documento assinado e registrado naquela instituição por Maxine Sullivan, em 1967. Defendeu tese de doutorado na Universidade de Utah, em 1964, sob a orientação do grande pensador J. Geerlings. Professor Auxiliar de Ensino no Centro Técnico Aeroespacial, do Ministério da Aeronáutica, desde 1968 até 1971, informação baseada em documento do próprio Ministério, em junho de 1998. Foi professor regente na Faculdade de Engenharia de Guaritinguetá, SP, em 1971. Esta mais tarde foi incorporada à UNESP. Lecionou também na Fundação Valeparaibana de Ensino de São José dos Campos, em 1969. Tudo isto, comprovado em documentos do Ministério do Trabalho. Professor Assistente Doutor do Departamento de Produção da Faculdade de Engenharia/UNESP/Campus de Guaratinguetá, desde 1969 até 1999, onde se aposentou, conforme declara em documento, o diretor daquela instituição, Fernando Augusto Silva Marins. Os detratores de Champlin nunca leram o Parecer 752/1971 do Conselho Federal de Educação que deu pleno reconhecimento a todos os títulos apresentados por Champlin, autorizando-o a lecionar em qualquer instituição federal, como professor. “Pode ser aceito”. A UNESP de Araraquara, em 1986, aceitou o pedido de equivalência do doutorado do Dr. Russell Norman Champlin, feito no Departamento de Línguas da Universidade de Utah em 1964 sob o título “Reconstrucion of the Family II (pi) in Matew. Intelectual não pedante, humilde e hospitaleiro, Champlin é compreensivo com seus adversários. Evoca os seus tempos de juventude e fanatismo. Conta que certa vez seus colegas de seminário resolveram receber um missionário presbiteriano com hostilidade. Antes que ele tomasse o púlpito para falar sobre seu trabalho na Índia, Champlin e amigos haviam inundado o local com panfletos contra o conferencista. Evidentemente, Champlin está acima de seus críticos e não deseja dar-lhes resposta, porque a volumosa obra que escreveu o faz isto. Atualmente, se empenha em um comentário sintético das Escrituras Sagradas, se encontrando no livro de Provérbios. Mesmo mal compreendido, é um homem que ama os pregadores das Sagradas Escrituras, mesmo tendo passado desse estágio. Champlin foi batista e veio ao Brasil, com sua esposa Irene, e como missionário permaneceu em Manaus de 1957 a 1960. Homem de temperamento introspectivo, tímido, encerrou ali sua atividade como religioso para dedicar-se e contribuir não apenas ao povo evangélico, mas a cultura brasileira, como Filósofo da Linguagem e da religião. Sua contribuição seria o Novo Testamento Interpretado e seus tantos outros livros. A obra de RUSSELL NORMAN CHAMPLIN foi discutida na Revista Brasileira de Filosofia, pelo nada menor, filósofo Leonidas Hegenberg. (Acir da Cruz Camargo)

domingo, 18 de março de 2012

Conversa franca com Dr. Champlin sobre inspiração verbal-plenária da Bíblia





Entrevista do Dr. Russell Norman Champlin concedida a Acir da Cruz Camargo



05 de março de 2012



Estimado Irmão Acir,



Recebi sua carta datada de 17 de fevereiro que levou nove dias para chegar. Mando esta resposta com uma cópia. Também vou enviar uma cópia para Júlio.

  1. Muito obrigado por ter promovido meus interesses com a Editora Hagnos. Prometeram publicar a Odisseia “no segundo semestre” de 2012 que poderia ser julho – ou qualquer mês até dezembro. Mauro e Marilene, sua esposa, têm sido muito energéticos com sua Editora e as vendas da Trilogia (comentários sobre o AT e o NT e a Enciclopédia têm sido espetáculares, felizmente.
  2. Tenho uma obsessão no assunto Experiências Perto da Morte (e sob este título a Enciclopédia conta com um artigo). Também são chamadas de Experiências Quase-Morte (EQMs). Nestas histórias temos uma valiosa confirmação científica da existência da alma e sua sobrevivência da morte biológica. Muitos evangélicos as rejeitam porque o amor de Deus brilha mais fortemente do que eles pensam ser possível considerando certas Escrituras que parecem falar o oposto. Eles estão apostando na vitória do fogo. Aqui eu, alegremente, fico com a luz da ciência.

Se quiser tentar promover publicação desse material, faça o que pode. Sem dúvida, neste caso, qualquer publicador quereria um número menor, talvez selecionando algumas dentre as que enviei.

  1. A doutrina do fogo eterno se originou na teologia helenista dos judeus (o período entre o AT e o NT) e é um reflexo da obsessão dos judeus daquele tempo de ver o fogo de Deus destruir seus inimigos. Os primeiros textos que contém essa diabólica doutrina se encontram no livro pseudepígrafo de I Enoque (em diversos lugares). Daí no livro apócrifo que se chama II Esdras, esta ideia de um Deus destruidor aparece nos capítulos 7 e 8. Infelizmente, esta doutrina irracional e brutal entrou no NT em alguns lugares como no primeiro capitulo de II Tes e no Apocalipse. Esta incorporação fora muito infeliz e enganadora. É uma distorção de qualquer um que pára para pensar um pouco, e demonstra o uso indevido de textos prova (das Escrituras) para comprovar qualquer coisa. Não me sinto responsável por defender essa doutrina a despeito de qualquer número de textos de prova que poderiam ser encontrados. Textos como I Pedro 3.18-4.6 e Efésios 1.9,10 e 4.8-10 olham além dessa doutrina horrível.
  2. Sobre a inspiração das Escrituras. Qualquer um que estudou o AT e o NT., versículo por versículo como eu, não acredita que estes documentos não contenham erros e contradições. Estou trabalhando em outro comentário, e tenho passado de novo através do AT e quase todo o NT. Estou, atualmente, na exposição de Hebreus. Em quatro meses, entro de novo no Apocalipse. Este comentário é conciso, mas além das exposições ele apresenta 3.000 ilustrações (histórias, contos). Este Comentário Conciso terá um total de 5.000 páginas sobre o AT e o NT combinado em comparação com as 40.000 páginas dos comentários versículo por versículo. Estas páginas são de computador – fonte 12, não de páginas imprimidas. Será uma publicação inédita neste mundo. E de novo visto opiniões contraditórias sobre algumas doutrinas quando comparando um escritor com outro. De fato, a maior contradição é justamente como o Novo, em pontos críticos, contradiz o AT. Salvação no AT tem uma ideia totalmente diferente. Nesta coleção, a salvação vem através da graça, pela fé. E a lei agora somente mostra claramente a natureza do pecado e, de fato, fica ao lado do pecado para nos condenar – e não tem nada a ver com salvação. Eis uma tremenda contradição e esta contradição se encontra na sua Bíblia. É interessante observar que, numericamente, a maior parte da Igreja ficou com Moisés, especialmente se alinhando com Tiago, capítulo 2, no lugar de Paulo. A Igreja Católica Romana (que tem mais do que um bilhão de membros) se alinha com Tiago (portanto com o AT).

A Reforma Protestante era, essencialmente, uma volta para Paulo. A Igreja Católica além de alinhar com Tiago, preserva, em espírito, os sacramentos e ritos do AT.

No NT., existem quatro estágios do Evangelho:

  1. Dos Evangelho Sinóticos e Atos
  2. Os avanços no Evangelho de João
  3. Outros avanços nos livros de Paulo
  4. Existe uma situação de contradição em Efésios 1.9-10 e 4.8-10 onde através da missão tridimensional de Cristo (na terra, no hades e nos céus) o Evangelho é universalizado e agora aplica a todas as almas humanas, sem exceção. Tudo será unificado ao redor do Logos-Cristo. O fogo do inferno foi apagado; as almas no hades subiram e agora fazem parte da unificação. Todavia, os elementos da unificação são diversos e não se encontram no mesmo nível de glória. Ver ponto 8, a seguir, para explicações desta diversidade unificada. Assim, o ensino do universalismo é evitado. Existirão remidos e restaurados, categorias de glória diferentes. Ver na Enciclopédia o artigo sobre o Ministério da Vontade de Deus.
  5. Vamos voltar para o assunto da inspiração das Escrituras. Acredito que todos os livros do cânon foram inspirados pelo Espírito Santo, mas certamente, algumas partes desses livro não foram inspiradas, mas se originaram das mentes dos homens e das suas tentativas de explicar diversas coisas. Mas, note bem: alguns conceitos nestes livros, às vezes, contradizem outros. Isto qualquer pessoa que estuda versículo por versículo vai ser demonstrado amplamente. Considere a contradição óbvia entre Tiago (cap. 2) quando comparado com o evangelho de Paulo. Obviamente, procurando conforto mental, as denominações evangélicas oferecem harmonias que se mostram absurdas. Há do que 20 trechos em Gênesis que refletem tempos depois da vida de Moisés, uma observação que faço só para jogar na mistura um fato curioso. Estou interessado na verdade não em conforto mental. É equisito ser confortável com seus erros. Considere este fato: A inspiração se manifesta em diversos níveis e maneiras:

  1. Passagens ditadas: O Espírito controla a mente do profeta totalmente e coloca até as palavras certas na mente dele. Mas esta forma é somente um dos possíveis modos de inspiração. É um erro gigantesco declarar que todas as Escrituras foram inspiradas desta maneira. A investigação comprova que isto é equivocado. O AT, em alguns lugares, apresenta um Deus violento que promove a mais desgraçada violência que, dificilmente pode ser atribuida a Deus. Por causa deste fato, Orígenes inventou a interpretação alegórica justamente para tirar lições daquelas Escrituras violentas sem atribuí-las a Deus.

Considere este fato: O grego do evangelho de Marcos é o “grego da rua” não um grego de um estudioso. Este grego contém um grande número de erros gramaticais. As traduções escondem este fato já apresentando uma gramática correta na língua portuguesa. O “nois vai” do autor fica corrigido para “nós vamos”, só para dar um exemplo. Mas o do evangelho de Lucas já é um grego de um erudito médico. O grego das cartas de Paulo é um grego nativo embora incorpore algumas construções desajeitadas. O grego de Hebreus é um grego quase clássico, erudito e poético que Platão podia ter escrito. Mas o do Apocalipse é um grego de alguém que falou aramaico como sua linguagem nativa. O escritor ignora em muitos lugares a concordância gramatical, assim corrompendo o grego. Então imagine este cenário: O Espírito Santo inspirando o evangelho de Marcos vai para a rua emprestar a linguagem falada aí e coloca neste evangelho. Daí inspirando o evangelho de Lucas ele pára para receber sugestões do médico erudito. Inspirando Hebreus ele tem uma conferência com Platão para emprestar o grego dele para escrever este livro. Algum dia eu vou mandar para você um carta minha escrita em português sem ser revisada e você vai dizer que o Champlin estava me enganando com aquele bom português nas suas cartas que não é representante da linguagem dele. Assim você pode dizer que eu tenho perpetuado uma fraude. O meu português é mais ou menos comparável ao grego do Apocalipse. Falando tudo isto, eu não estou atacando o conteúdo destes livros. De fato, eles representam uma literatura extraordinária a despeito da linguagem utilizada. Agora fala para mim como estes livros foram ditados pelo Espírito Santo palavra por palavra, inspiração verbal e plena.

  1. Ideias Gerais: O escritor recebe uma ideia inspirada que ele desenvolve de maneira melhor possível. O resultado depende de suas capacidades intelectuais e espirituais. Alguns destes desenvolvimentos demonstram as capacidades literárias dos escritores. Por exemplo, é claro que o apóstolo Paulo era um gênio e sua capacidade literária era excepecional.
  2. Através do Estudo: Anos de estudo dedicado produzem inspirações válidas, embora sujeitas a equívocos. Por outro lado, grandes passagens foram produzidas desta maneira. As cartas de Paulo demonstram o que um homem estudioso pode produzir.
  3. Tradições: Não são inúteis e têm contribuido com alguns finos entendimentos. Existem tradições na Igreja que seguiram depois, especialmente, para interpretar as Escrituras. Mas tradições são sujeitas a exagero e equívocos. Considere Atos 7 – a defesa de Estevão que vem das tradições judaicas e não somente das Escrituras do próprio AT. De fato, sua defesa em alguns dos escritores e/ou seus raciocínios.
  4. Interpretações inspiradas: A mente recebe intuições e raciocínios que ajudam o intérprete a entender melhor os assuntos espirituais. Sem dúvida, alguns trechos da Bíblia se resultaram das instituições dos escritores e/ou seus raciocínios.
  5. Inspirações além do texto: Sendo um dom do Espírito Santo, como o dom do conhecimento (I Cor 12.8). O intérprete pode ser inspirado de vez em quando. Até pode, às vezes, receber inspirações separadas dos textos sagrados, como nas visões e nos sonhos espirituais. Sonhos fazem parte da tradição profética. A inspiração é uma função complexa que incorpora diversas modalidades. Nenhuma explicação isolada é adequada, mas algumas pessoas ficam somente com modalidades. As pessoas que promovem somente este meio de inspiração ou revelação são patéticas, porque agindo assim se mostram crianças intelectuais. É parte da minha missão declarar estas verdades.

Reconciliação com o fundamentalismo? Quando jovem, eu era um fundamentalista radical e insuportável e assim perdi alguns anos de minha vida em brigas e contendas. Abandonei este tipo de expressão religiosa como pernicioso. Minha filosofia me libertou.

  1. Novas revelações? Temos o AT e o NT., magníficas coleções, mas dificilmente adequadas para sempre. Deus é maior do que coleções de livros. Podem existir outros testamentos, um terceiro, um quarto, um quinto, etc. Deus não está anulado por nossas noções piedosas. Considere: bibliolatria, a adoração de um livro. Esta idolatria rouba Deus de sua glória, colocando um ídolo no lugar de Deus. Todas as idolatrias perniciosas.
    7. Revelações fora da Bíblia Hebraica e Cristã? Acredito na doutrina dos Logoi-spermatikoi, as sementes do Logos nas diversas religiões não cristãs; nas filosofias, nas ciências (exatas e sociais); na poesia, nas literaturas não especificamente religiosas; na história humana; nas instituições humanas como nos seus governos; nas culturas; na criação física, tão magnífica; até, de vez em quando, na política; nas visões e nos sonhos espirituais. Aleluia! O Espírito está em muitos lugares, plantando as sementes do Logos. Chega de limites falsos! Chega de pensamentos infantis! Chega de exclusivismos! Deixa a Luz brilhar sem interferências. Louvai o Logos-Christós, a fonte do nosso conhecimento espiritual que não se limita às nossas noções exclusivistas.
  2. Universalismo? Esta doutrina ensina que todos os homens, afinal, serão salvos. Baseando-me em Efé cap. 1, acredito que os remidos serão salvos e participarão na natureza divina (II Pedro 1.4), através de sua transformação à imagem de Cristo (Rom 8.29). Acredito que o número deles será relativamente pequeno. Mas, todos os não remidos serão restaurados e todas as almas serão remidas ou restauradas.

A unidade ao redor do Logos-Cristo (Efé 1.9-10) não excluirá nenhuma alma. Os restaurados não participarão na natureza divina, mas terão uma glorificação secundárias, mas ainda gloriosa porque sera uma obra-prima do Logos.

Assim falando, valorizo a forte declaração da primeira parte de Efésios cap. 1 e a declaração generalizada dos vss 9-10. Na primeira parte deste capítulo, encontramos uma afirmação forte sobre a eleição. Eu uso a palavra remidos no lugar de eleitos porque esta palavra nos envolve em controvérsia pesada. Depois a missão de Cristo garante que existirá uma restauração generalizada (vss 9, 10). Portanto, vejo duas glórias, a primária e a secundária. Assim ensina o Mistério da Vontade de Deus que ultrapassa o resto do Novo Testamento: o que o amor de Deus fará em benefício de todas as almas. O hades mandará suas almas cativas e elas subirão para participar da unificação. Eis o Quarto Evangelho que toma o lugar dos Evangelhos inferiores, e é, de fato, uma contradição das velhas ideias que eram parciais, e parcialmente erradas. Este Quarto Evangelho é a universalização do Evangelho no qual o amor de Deus brlh sem obstáculos. Deixe esta luz brilhar. Valorizo e declaro o Amor Incondicional do Logos-Christós.

Abandonando as controvérsias, as discussões e as dúvidas, apresentadas acima, consideremos o valor intrínseco dos dois Testamentos (o AT e o NT). Obviamente, são grandiosas coleções e incorporam literatura imortal. Lendo e estudando não somente estes livros mas também aqueles de sistemas não cristãos, posso afirmar que estes dois Testamentos são mais impressionantes do que os outros, embora existam valiosas obras não cristãs. Considero o Novo Testamento a maior coleção de livros já escrita. Nosso problema não são “os problemas” mas nosso dedicado estudo do NT. Tenho dedicado minha vida a este estudo e também a outros caminhos de investigação que considero extremamentes importantes. Sumariando, considero o Novo Testamento o maior documento espiritual de todos os tempos. Esta coleção é rica, eloquente e poderosa. Quem estuda com determinação estes livros será transformados por eles.

No amor incondicional do Logos-Cristo,

Russell Norman Champlin