domingo, 31 de dezembro de 2017

Travestismo histórico e a origem dos batistas: resposta a um youtuber inconsequente


Doria, como você fala português com um sotaque de outro país, pode ser que eu tenha dificuldades em entender você, não sei o que sejam hangouts, coisa do gênero. Deixo isto claro para garantir que posso ter interpretado você não muito bem.
1. Ajudaria muito, sempre em vídeos e matérias como esta, se você identificasse sua formação acadêmica, para que os internautas percebam que você não é um amador na área em que discorre, como também identificar os entrevistados. O rapaz que apareça na tela não tem apresentação, até talvez seja prudente para ele, não dizer.
2. Existe uma vasta literatura, acadêmica e séria, sobre a História dos Batistas. Está disponível nas ementas e bibliografias de uma matéria com mesmo nome, nos Seminários Teológicos Batistas e nas boas Faculdades, provavelmente, na História do Protestantismo. Hoje com o Google, nada fica tão distante.
3. Os batistas ensinam sua história para os seus membros? Alguma vez algum membro da Igreja Batista foi pereguido, impedido, ameaçado, de procurar por si conhecer a História da denominação? Não conseguiu, por ordem dos pastores, comprar livros, revistas, artigos científicos de História?
4. Num momento do vídeo (6:22), quando você chega a uma conclusão, mas não conclui, diz algumas frases que deixam claro, você não é um historiador, não tem costume de pesquisar a História enquanto ciência social, "a história que ta aí" - uma linguagem que não faz parte do universo dos historiadores.
5. O rapaz do vídeo, esse mais arrojado, utiliza-se de uma velha tática, curiosamente, a recomendada pelo Ministro da propaganda de Hitler, de que focar, fixar, na mente dos ouvintes, o aspecto que ele considera mais negativo, daqueles que ele escolheu como adversários. Ele pegou os movimentos milenaristas, retirou-os do contexto histórico, transportou os personagens para o século XXI e mandou bala em todos. Um detalhe, o historiador tem que, esforçar-se para enxergar os personagens e sujeitos históricos dentro do tempo, da cultura e dos valores que eles viveram. Os movimentos milenaristas foram 1% do movimento cristão geral.
6. Aproveitando-se da indigência intelectual, da falta de pesquisa abalizada, quem, fora os estudantes de Teologia, quando estudam, estudam História dos movimentos internos do Cristianismo? Por isso é facilímo dizer qualquer coisa, qualquer besteira, e isso ficar estabelecido com pesquisa séria. O rapaz dogmático do vídeo que você apresenta, vincula os Batistas Holandeses com os Puritanos. Eu recomendo que os internautas, consultem um dos mais respeitáveis historiadores ingleses, Williston Walker sobre essa matéria. Os Puritanos não foram, não são Batistas. Foram um grupo dissidente da Igreja Anglicana.
7. Outra coisa que soa estranho para um pesquisador em História, no vídeo 6:28, você usa outra expressão que não faz parte do nosso mundo científico, "Constantino fez o Concílio com os escribas". Os Escribas são especialistas judeus, que jamais se sentariam num Concílio com o Imperador Romano. Nesse momento as relações entre os judeus, dominados, expatriados pelos romanos, não estava boa. Eles não compareceram ao dito evento. Constantino reuniu-se com os bispos de um dos principais ramos do Cristianismo, que haviam se vinculado à Igreja local em Roma. Nascia aí, formalmente, a Igreja Católica.
8. Um erro crasso, que um historiador não cometeria, atribuir a Constantino a "montagem da Bíblia". Seria longo discutir isso aqui. Há livros e certamente se recomenda que estudem. Os livros do Antigo Testamento, nos dias de Constantino já eram um consenso entre os judeus e os cristãos. O apóstolo Paulo, que viveu anos antes de Constantino, já reconhecera o papel as Escrituras judaicas nas comunidades cristãs. O Novo Testamento, nos dias de Constantino, já se encontrava, praticamente aceito, sobrando uma ou outra dúvida.
Como o seu vídeo, até aqui já me deixou claro onde pretende chegar, o método (falta de método) para tais conclusões, decidi não assistí-lo até o final. O fundamento do edifício está perigoso, errado e desmoronará o mesmo, então, por que comprar um apartamento nele? Apenas encerro o comentário, por respeito aos que assistirão ao vídeo, aos batistas, que lamentavelmente, desconheçam a história rica e bela que o movimento tem, infelizmente, abandonada pelos seus fiéis e membros, que os dois apresentadores do vídeo, se preocupam com a origem do nome "Batista", mas em momento algum com os ensinamentos, com as doutrinas, se estas estiveram nos primórdios do Cristianismo ou não. Recomento então, dois autores, Edward Thurston Hiscox e José dos Reis Pereira. Ambos, esgotados e provavelmente nos sebos. Hiscox é mais profundo e rico em referências bibliográficas. http://www.faberj.edu.br/downloads/biblioteca/historia_dos_batista/Uma%20Breve%20Historia%20dos_Batistas.pdfDuvido que, em tese, apesar da decadência que varreu as igrejas batistas na conduta e na capacidade intelectual dos seus membros, já encontro batistas que não leram as Escrituras, haja um grupo denominacional mais próximo da Bíblia em doutrina. A prática, como disse, pode ser outra.

[https://www.youtube.com/watch?v=FaPhlF9GgF8]

NOTA: Não está correto o uso dos termos "Igreja Batista", conforme o garoto utiliza. As igrejas batistas são constituidas de congregações locais e independentes. Não há uma Igreja Batista como há uma Igreja Católica.